Aposentado e agente cultural, Benedito da Silva Lemes, 71, é mais conhecido como Ditinho da Congada, e se tornou ao longo de décadas, um guardião do movimento folclórico em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
“A congada é uma cultura tradicional na minha família de gerações, atrai pessoas de todas as idades”, diz Ditinho, que começou a dançar aos 2 anos.
Expressão cultural e religiosa que envolve canto e dança, a congada reúne em uma procissão tradições do Congo, na África, e foi trazida pelos escravos ao Brasil, a partir do século 18.
Na família Lemes, há mais de 100 anos, a manifestação popular começou a ser cultuada pelos avós de Ditinho, na cidade de Cordislândia, no sul de Minas, e vem sendo repassada de geração para geração.
Ao longo dos anos, Ditinho adaptou as apresentações e personalizou a vestimenta do grupo. Os homens usam camisa branca, gravata e calça social; as mulheres vestem saia preta, blusa branca e também gravata.
“Nós usamos uma farda, que é uma representação de luta do Carlos Magno [rei dos francos a partir de 768, no combate contra invasões mouras]. A roupa social faz uma diferença quando fazemos cortejos nas ruas ou apresentamos em evento”, explica.
Atualmente, o grupo de congada Parque São Bernardo reúne 50 pessoas, a maioria da família do Ditinho. Todos participam de forma voluntária, as roupas e os instrumentos são emprestados.
“As pessoas acham que a cultura folclórica tem que ser de graça, nós não temos recursos financeiros. Às vezes tiro do meu próprio bolso.”
O agente cultural participa de editais culturais na região e pretende criar uma fundação para tornar a congada patrimônio cultural de São Bernardo.
“A congada me tornou conhecido na cidade de São Bernardo. Fui metalúrgico, formei meus filhos. Ela ajudou muito na questão do trabalho social no meu bairro”, conta.
Para José da Silva Lemes, 59, técnico de edificações e irmão de Ditinho, a congada é algo de família e precisa ter uma hierarquia. Ele canta no grupo Parque São Bernardo desde o início e tem algumas composições.
“Cantar nas ruas não é fácil, principalmente na congada, pois tem que ter a canção certa para cada momento. E levar o nome do nosso bairro é muito importante, é mostrar que tem coisa boa acontecendo aqui.”
Para Jaqueline Costa de Oliveira, 24, manicure prima do Ditinho, a manifestação folclórica tem memórias familiares. “Sempre gostei de ver meus tios e primos dançarem. É um momento incrível ver as pessoas acompanhando a gente, é contagiante”, diz a jovem, que participa dos eventos com a congada desde a infância.